Surrealista
Ouvi berrar uma ovelha como uma sirene na bruma,
E, ó este doce som, fez-me rir até que chorasse
Porque, ah, essa ovelha estava na encosta
A pouco menos do que uma curta distância.
Saltei para as suas costas; ela saltou para o mar.
E eu fiquei perto das margens da eternidade.
Não havia ovelhas - perecera a dor nos ouvidos.
Tomei um barco e dirigi-me para longe
Esperando colonizar a estrela polar.
Mas no barco havia um ganso perigoso
Que algum eterno idiota soltou.
Para o animal selvagem, não disse "Buu!"
Mas não foi porque não o soubesse.
Logo aportei em terra com os terríveis guinchos,
O feroz bípede cacarejando em meus calcanhares.
Alarmado, fugi para uma cova de leão
E atrás de mim correram três mil homens armados.
O leão atravessou a porta dos fundos
E insatisfeito lançou um longo rugido.
Logo a minha bravura cresceu; e mais corajoso
Saltei directo à caverna de um tigre.
O tigre rosnou; foi então que pensei que seria
Melhor vestir o pijama e ir para a cama.
Mas o tigre tinha um tenso rosto desaprovador,
E desviei os olhos do seu temível esgar.
E à noite, começou a arranhar as minhas costas,
Não parava de grunhir que eu era o seu cunhado.
Levantei-me e pensei que era melhor procurar
A casa de um médico: já que era quase dia.
O médico abanou a cabeça e gritou: "Para um preto
A pimenta e o sal são o remédio, é certo."
Mas objectei a estes seus condimentos
E pensei que o médico tinha pouco senso.
Então regressei à minha estreita cama
Onde tudo era agora mais real e quente.
Mas o mundo ferozmente rachou por baixo,
Ao tentar vestir o meu roupão olhei em volta,
Estava acordado (caí no chão).
À entrada, um tubarão batia à minha porta.
Short Poems, 1930-1950, Collected Poems, 1ª edition 1972
Complete Works
of Sri Aurobindo, Volume 5
© Sri Aurobindo
Ashram Trust 1972, Pondicherry
Sri Aurobindo
Ashram Publication Department
Versão adaptada a
verso livre © Luísa Vinuesa