A Morte e o Viajante do Fogo


MORTE


Chama que invade o meu império de tristeza sem palavras e sombrio,
        Flecha de luz azul, farpada com prazer de asas douradas,
Quem foi que te apontou a minha Alma crucificada que para sempre
Tem no útero paixões e ritmos de um universo para seu túmulo criado?

Eu que sou a Morte e vivo na caverna sem limites da Natureza,
Eu sou a Morte que não pode morrer. Uma Sombra da Eternidade,
Em vão latejo nas estrelas que erram pelo vazio sem recurso,
Formas cintilantes num vasto Nada sem pensamento e vida.

Ó, estas estrelas que brilham e vagam, Deus inventou-as
Queimando as unhas no meu coração, pedras da minha prisão. Deus,
O Arquiteto sem misericórdia, implacável e poderoso ergueu-as,
Prendeu nelas o Tempo, o trilho para o Nada, a morada da Morte.

Fogo de Deus, apaixonei-me pela vida e reuni apenas cinzas -
A vida para que a Morte morra. Sim, foi isto a vida que Ele me deu?
Brilho da minha escuridão, reflexos e ritmos nervosos devoraram o devorador,
Torturado pela chama, um desejo obscuro acendeu-se em mim para me salvar.

A vida era um pulsar doloroso desta matéria, ensinando-lhe a angústia,
Ensinando que a esperança e o desejo se arrastam cedo demais na lama,
Vida, a frágil alegria que lamenta a sua brevidade, vida, a longa tristeza,
Ama para odiar o teu parente próximo e sua liberdade, o Fado é seu 
companheiro de cama.

Então, na minha angústia, busquei conhecimento, luz em minha meia-noite,
Luz em seus símbolos de sonho, força de pensamento para redimir,
Sim, foi a luz que Ele permitiu, o pensamento enredado na escuridão?
A ignorância vê pelo seu próprio registo de sentido e pedra.

A ignorância construindo os seus esquemas e sonhos baseados no erro,
Essa era a mente que eu procurara moldada em Seu nada.
Hieróglifos do alfabeto dos reflexos que a vida gerou,
Espasmos de matéria capturados em luminoso invento do pensamento.

Sim, não é Deus senão eu mesmo, eufemismo da morte, ficção imortal,
Nada eternizado e nu, mas como alguém que é Ninguém,
Morte ainda sempre viva, o Inconsciente agitado com aparências,
Matéria atormentada com a vida, um Vazio e suas forças em luta?

Ó, por meu pensamento escapar de mim mesmo do pensamento para o Nada,
Assim, esperava dissolver-me, arrebatado por alguma Benção anónima,
Rasgando a ilusão que criei para ser imutável, atemporal, sem forma,
Este sonho abandono agora, muito longo nem mesmo para cessar.

Num descontentamento insensível, perdi um universo estéril,
Sem metas, condenada a viver, uma espiral de matéria em dor,
Conheci-me como o teu ilimitado finito, a tua escuridão sem fim,
Sombriamente auto-iluminada, plantada para se esforçar em vão.

Fogo que viaja da imortalidade, faísca do Atemporal,
Por que vens à minha noite, insuportável ídolo de Luz,
Ah, de que universo mais feliz vagueavas acendendo o meu torpor?
Passa, Ó espírito de Luz, a minha vastidão de Noite não perturbes.






Poems in New Metres (Fragments), Collected Poems, 1ª edition 1972
Complete Works of Sri Aurobindo, Volume 5
© Sri Aurobindo Ashram Trust 1972, Pondicherry
Sri Aurobindo Ashram Publication Department
Versão adaptada a verso livre © Luísa Vinuesa

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