A um Adorador de Heróis

I

A minha vida é agora um canto desolado,

Não a minha música mas um vento ocioso

Porque simplesmente encontraste

Em toda esta riqueza tecida de rima

Duras figuras feridas com dura música,

A voz rude de fabulosos pássaros,

Um som de um caranguejo de rubi,

Uma nuvem de palavras adoráveis?

Eu não sou, dizes tu, uma varinha mágica,

Um oráculo de choro,

Uma negra estrela ameaçadora,

Um trovão do Sinai que Deus exprime,

Sem qualquer refrão para a minha canção,

Nem palavra ardente instintiva com o fogo,

Nem feitiço para perseguir o mal triunfante 

E nenhum desejo doce do espírito.

Não é minha a lança relâmpago de Byron

Ou a a força lúcida de Wordsworth,

Nem a dor lírica de Shelley

E de Keats, o poeta sem pares.

Eu, pelas vastas águas indianas

Vislumbrei a magia do passado

E sopro através de um cano de aveia
Os ecos alterados de um dia anterior.

II

Meu amigo, quando o meu espírito acordou

Trilhei o labirinto perfumado

Da miríade da Fantasia,

Estudei a Natureza como um livro que

Os homens crêem ter significado; ainda

Penso que na rosa escarlate não há cifra,

Nem moral no vento murmurante

E nas neves nenhuma mensagem.

Para mim a margarida brilha como estrela,

O açafrão inflama o pináculo da torre,

Um corno do fogo de ouro,

Narciso luz num lingote de prata:

Prímulas, o sopro dourado de Deus

Considero ser a herança do poeta,

E prateados lírios no relvado

De sua página respiram a fragrância.

Nenhum arauto do Sol eu sou,

Senão um véu iluminado pela lua,

Um rouxinol avermelhado,

Que verte a doce canção, não sabe porquê,

Que verte como o vinho a nota abundante

Com a sua garganta ferida pelo som,

Que verte a doce canção, não importa porquê,

Nem jamais se aquieta para que não morra.

Short Poems, 1890-1900, Collected Poems,  1ª edition 1972

Complete Works of Sri Aurobindo, Volume 5

© Sri Aurobindo Ashram Trust 1972, Pondicherry

Sri Aurobindo Ashram Publication Department

Versão adaptada a verso livre © Luísa Vinuesa