Para o mar


                         Ó cinzento mar selvagem,
Tens uma mensagem trovejante para mim.
                         As tuas largas e imensas costas,
As tuas bestiais vagas levantadas, fendas abismais
                        Mergulharam fundas entre si.
Um barco pálido voa sobre elas, pouco é avistado.
                         Ouço o teu rugido
Chamar-me: "Porque é que te demoras na praia?
                         Com os olhos medrosos
Vendo os meus cumes visitarem os céus espumados?
                         Este barco trivial
Desafia as vastas ondas onde pode flutuar.
                         Morto será se for encontrado,
Não são muitos milhares deixados para trás?
                         Desafiam o meu amplo rugido,
Nem como cobardes se agarram à fácil margem.
                         Desce e aprende
Que o êxtase vive em perigo e derrota."
                         Sim, grande mar,
Sou mais poderoso e navego em ti.
                         Em teus cumes me ergo;
O meu pretexto para brincar com os céus.
                          E mergulho abaixo
No fundo do mundo desconhecido e gritante.
                         Em terra segura
Permanecer é perder o que Deus planeou
                         Para a imensa alma do homem
Que como meta firmou a divindade eterna.
                         Por isso Ele uniu
Perigo e obstáculo como os mares e forjou
                         A dor e a derrota,
E Suas gigantes armadilhas dispôs em volta de nossos pés.
                         A nuvem Ele convoca
Com o trovão e com Suas tempestades ataca-nos,
                         Esse homem pode crescer
Rei sobre a dor e vencedor sobre a derrota,
                         Casando a sua grande
Alma indomável com o Destino adverso.
                         Leva-me, sê
A minha estrada para os céus, rude e imenso mar.
                         Vou capturar a tua juba,
Ó leão, domesticar-te e desdenhar;
                         Ou então abaixo
Vou para as tuas salinas cavernas abissais,
                         Receber em mim
O teu peso e ser teimoso como o meu destino.
                         Eu venho, Ó Mar
Para medir o meu único e imenso eu contigo.






Short Poems1890-1900, Collected Poems,  1ª edition 1972
Complete Works of Sri Aurobindo, Volume 5
© Sri Aurobindo Ashram Trust 1972, Pondicherry
Sri Aurobindo Ashram Publication Department
Versão adaptada a verso livre © Luísa Vinuesa

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