Autoria

Dizes que o pai escreve muitos livros, mas não entendo o que 
ele escreve.   
Esteve a ler para ti ao longo da noite, mas compreendes
realmente o quer dizer?
     Que belas histórias, mãe, podes contar-nos! Porque é que o pai
não pode escrever assim, pergunto?
     Nunca terá ouvido da sua mãe histórias de gigantes e
fadas e princesas?
     Terá esquecido todas?
     Muitas vezes, quando se atrasa para o banho, tens cem vezes
de o chamar.
     Esperas e conservas os seus pratos quentes, mas ele continua
a escrever e a esquecer.
    O pai brinca sempre a fazer livros.
Se alguma vez vou brincar para o seu quarto, vens e chamas-me,
     "Que criança atrevida!"
     Se fizer o menor ruído, dizes: "Não vês que o pai
está a trabalhar?"
     Qual a graça de escrever e escrever sempre?
     Quando pego na caneta ou no lápis do pai e escrevo no seu livro
assim como ele faz, - a, b, c, d, e, f, g, h, i, - por que te irritas logo
comigo, mãe?
     Nunca dizes uma palavra quando o pai escreve.
     Quando o pai desperdiça montes de papel, mãe, parece que de
todo não te importas.
     Mas se pegar numa única folha para desenhar um barco, dizes:
"Criança, como és desordeira!"
     O que pensas das folhas que o pai estraga e das folhas de papel
com marcas pretas de ambos lados?




Rabindranath Tagore - 215 poems
Classic Poetry Series - PoemHunter.Com
The World's Poetry Archive, 2012.
Versão 
Portuguesa © Luísa Vinuesa      

Outros poemas

A Deusa de Pedra

A Mãe de Deus

Shiva

Noite junto ao mar

Deus

A Dança Cósmica

Nirvana

Noiva do Fogo

Os Ditadores de Ferro

A Encarnação Universal