NOTA DA TRADUÇÃO


Filósofo, poeta, mestre espiritual, yogue, e activista pró-independência da Índia, Sri Aurobindo Ghose, o autor dos poemas constantes neste blogue, é uma figura de maior relevo espiritual e inspiração literária no mapa cultural de todas as épocas, além de qualquer época. Os poemas aqui apresentados foram escritos ao longo de 60 anos de vida do autor (1890-1950) em géneros tão diversos tais como Pequenos Poemas, Sonetos, Poemas em Novas Métricas e Poemas em Métricas Experimentais, de acordo com a classificação temática da 1ª edição datada de 1972 dos Collected Poems, publicada pelo Departamento Editorial do Sri Aurobindo Asrham. Perante a diversidade de métricas e rimas que o autor utiliza, a tradutora optou por recriar os poemas numa versão adaptada a verso livre pelo facto de lhe ser familiar o trabalho em prosa poética, permitindo-lhe uma proximidade pessoal mais intensa, íntima e exacta ao espírito essencial da palavra poética de Sri Aurobindo Ghose. Por fidelidade à grafia da língua mátria em que sempre escreveu, a tradutora não obedece ao Acordo Ortográfico de 1999. A presente tradução da obra em versão adaptada a verso livre é autorizada pelo Departamento de Copyright Editorial do Sri Aurobindo Asrham. O poema "O Jogo dos Mundos" (Poems in New Metres, p.592) foi escolhido para exprimir a natureza poética da antologia publicada neste blogue. 


O Jogo dos Mundos


O ISHVARA PARA ISHVARI


Em anos divinos ainda não medidos pelo pensamento de um homem ou pela dança da terra 
ou o movimento da lua,
       Eu tenho guardado a lei do Invisível por causa do teu sorriso, Ó doce;
Enquanto as vidas perseguiam inúmeras vidas aladas, como se pássaros atravessassem o imenso mar,
       Na passagem dos séculos tenho assistido à tua maratona para a luz.
                                                                                             
A terra dançando com o sol em suas vestes de fogo, não foste tu circulando a minha alma flamante?
       As contemplações da lua em sua alegria de néctar foram o meu olhar inquirindo por ti
através do espaço.
       A pressa do mundo e a corrida da tensa mente e o longo galope de
passageiros anos
       Foram a minha velocidade para chegar através do fluxo das coisas e para avizinhar
finalmente o teu rosto.

A busca da terra é minha e o imenso escopo das longas eras são o meu
trilho do coração;
       Pois sigo uma vontade sublime e secreta e os passos da tua Mãe poderosa.
No escuridão brutal vou espiando o cérebro humano e a visão calma nos olhos de deus,
       Sou eu quem procura nos trilhos quebrados da Vida pelo pelo teu riso, amor e luz.

Quando o tempo não se movia nem o espaço amplamente se expandia, entreguei-me a mim mesmo 
ao teu jogo dos mundos,
       Para que as tuas deliciosas mãos de poder me governassem, movessem e dirigissem;
Para a estupidez da terra caí, por teu desejo de desporto tecendo a minha substância do espírito
       Num milhão de padrões de formas de almas comigo tecidas vivo.

Os mundos são apenas um campo de jogo do Teu Uno, uma máscara colorida da dualidade do Uno,
       Eu estou em ti como estás em mim, Ó amor; estamos mais perto que o coração e o peito;
De ti saltei para uma faísca do espírito, montei de novo o fogo da alma;
       Em nosso movimento as estrelas perseguem a espiral do Tempo, a nossa unidade é 
o repouso da Natureza.

Quando a luz primeiro do imenso inconsciente se quebrou para criar a nebulosa
e o sol
       Foi o encontro das nossas mãos através da noite vazia que acendeu
o fatídico incêndio;
Os enormes sistemas abandonaram os seu imóvel transe e esta cratera verde da vida cresceu
       Para que possamos olhar um para o outro na forma das profundezas de um
olhar vivo.

A Mente viajou em suas escalas, nota a nota, os seus olhos espantados ou o pensamento extasiado,
       O meu pensamento trabalhou para que em ti a mim mesmo me conhecesse
os nossos átomos, larguras e profundidades,
Tudo o que anseio é que tudo o que é teu seja guardado perto, 
do coração para o coração, de si para si mesmo,
       Como um mar a um mar se une, ou membros a membros, o prazer da vigília
ao sono.

Quando o auge da mente se perde em Tua vasta Luz e o homem se afoga em deus,
       A tua Verdade desvirtua as suas chamas douradas e a tua brancura de diamante;
A minhas almas iluminadas descobrirão a alegria de si mesmas, tudo tomarão no próximo
Uno
       E a tristeza do coração advirá em felicidade e a sua doçura governará
os dias da terra.

Então a Vida será os teus braços agarrando o teu próprio braço apertado ao êxtase do teu peito
ou a calma paz,
       Com a tua alegria pela chama imortal do espírito e a tua paz por sua imortal fundação.
Quando os nossos olhos encontrarem o longo amor fechado em olhos profundos e os nossos seres 
se abraçarem velozes e unos,
       Saberei que o jogo valeu o cansaço cujo fim é o teu divino abraço.




Bio resumida da tradutora


Luísa Vinuesa nasceu em 18 de Janeiro de 1954. Frequentou a Escola de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciada em Filosofia (1971/76) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professora de Filosofia e Psicologia no Ensino Secundário, e técnica superior nas empresas CTT (Correios e Telecomunicações de Portugal) e Portugal Telecom, exercendo funções nas àreas de Tecnologias de Documentação e Informação, Formação Profissional, Gestão Comercial e Sistemas de Informação. 

Presentemente dedica-se ao exercício da Escrita Criativa e à participação em projetos que integram a Filosofia, o Teatro e a Poesia, actividades que exerce sem fins lucrativos. É tradutora da poesia (versão em verso livre) de Sri Aurobindo Ghose, trabalhando em regime pro bono. 

Como bloguista publica traduções literárias em versão adaptada à Língua Portuguesa da poesia de Emily Dickinson, Rabindranath Tagore, Sri Aurobindo, Lola Ridge, Robert Frost, William Carlos Williams, Alfred Kreymborg, Ezra Pound, Hilda Doolittle, Marianne Moore, T. S. Eliot, Edna St. Vincent Millay, Dorothy Parker, Louise Bogan, Laura Riding, E. E. Cummings, W. H. Auden, Elizabeth Bishop, Charles Bukowski, Frank O´Hara, Allen Ginsberg, W. S. Merwin, Anne Sexton, Margaret Atwood, Sylvia Plath, Diane di Prima, Louise Glück; e ainda da poesia de 23 poetas da geração Pós-Beat publicados numa antologia poética editada por Vernon Frazer. As traduções destinam-se exclusivamente a fins culturais e educativos.

Outros poemas

A Deusa de Pedra

A Mãe de Deus

Shiva

Noite junto ao mar

Deus

A Dança Cósmica

Noiva do Fogo

Nirvana

Os Ditadores de Ferro

A Encarnação Universal