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Noite junto ao mar

Amor, deixa cair as mãos por um momento; Expande-se a noite dentro de minha alma. Vela as tuas justas e belas rosas cor de leite Nesse cabelo escuro e molhado. Beijos de coral não são violentos Quando a alma tem a cor do pensamento; Ardentes olhos proibidos são então. Deixa cada pálpebra timidamente aberta Flutuar como uma pomba que pousa Sobre esses poços profundos do Amor. A escuridão ilumina; prateadas fogem Levadas pelo mar bombas de espuma. No abrupto repouso deste jardim Iluminado por ardentes rosas, Dourado campo de doces narcisos Cintilando fraco em rosáceas lâmpadas,  Incenso de madressilva adivinhado Pela fragrância do seu peito, - Aqui onde as mãos do verão coroaram O silêncio nos campos do som, Aqui deveria estar a felicidade. Escuta, Edite, até ao mar. Que voz de grande dor se intromete Entre estas felizes solidões! Ao vento em que habitas, O oceano, historiador antigo, narra Todo o coração terrível de lágrimas...

O Único mais Íntimo

É ele o único mais íntimo, que desperta o meu ser com seus profundos toques ocultos. É ele quem lança o seu sortilégio sobre estes olhos e toca alegremente nos acordes do meu coração em cadência  variada  de prazer e dor. É ele quem tece a teia desta ilusão em tons evanescentes de ouro e prata, azul e verde, e se espreitar através das rugas do seu pé, mal lhe toco, do toque de mim mesmo me esqueço. Os dias chegam e as idades passam, é sempre ele quem muda o meu  coração em múltiplos nomes, sob múltiplos disfarces, em múltiplos êxtases de alegria e dor. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa     

Prisioneiro

"Prisioneiro, diz-me, quem te acorrentou?" "Foi o meu mestre," disse o prisioneiro. "Pensei que poderia superar todos no mundo em  riqueza e poder,   e acumulei na minha tesouraria o dinheiro devido ao meu rei. Quando o sono me veio, deitei-me na cama do meu senhor, e quando acordei, descobri-me preso na tesouraria." "Prisioneiro, diz-me, quem forjou esta corrente inquebrável?" "Fui eu," disse o prisioneiro, "quem forjou com zelo esta corrente. Pensei que o meu poder invencível manteria o mundo em cativeiro,   deixando-me numa  imperturbável  liberdade. Então noite e dia trabalhei na corrente  com golpes cruéis  e fogos imensos. Quando dei terminado o trabalho , e os elos eram completos e  inquebráveis, descobri que em o seu  ajuste me  prendiam ." Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa 

Sono

Em noite de fadiga deixa-me desistir de dormir sem luta, repousando a minha confiança em ti. Não permitas que o meu débil espírito descuide o exercício de te adorar. És tu quem desenha o véu da noite sobre os olhos cansados do dia ao renovar a sua visão numa alegria mais fresca ao despertar. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  © Luísa Vinuesa   

Da Natureza do Amor

A noite é negra e a floresta sem fim; um milhão de pessoas tecem-na de um milhão de formas. Temos encontros para manter na escuridão, mas onde ou com quem - isso desconhecemos. Mas temos essa fé - que a felicidade de uma vida aparecerá a qualquer minuto, com um sorriso nos lábios. Aromas, toques, sons, fragmentos de canções limpam-nos, tocam-nos, dão-nos choques deliciosos. Então, por ventura há um relâmpago: por quem vejo naquele instante apaixono-me. Chamo essa pessoa e brado: "Esta vida é abençoada! por tua causa, cruzei tantas milhas!" Todos aqueles que se aproximaram e se afastaram na escuridão - não sei se existem ou não. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa

Amor Eterno

Parece que te amei de inúmeras formas, inúmeras vezes... Em vida após vida, em era após era, sempre. O meu coração encantado fez e refez o colar de canções, Que levas como um presente, usas de variada forma ao pescoço, Em vida após vida, em era após era, sempre. Quando ouço velhas crónicas de amor, é uma dor milenar, É um fábula antiga de estar-se apartado ou junto. Enquanto olho fixo sem parar o passado, no fim tu emerges, Vestida à luz de uma estrela polar penetrando as trevas do tempo: Tornas-te uma imagem do que é lembrado sempre. Tu e eu aqui flutuámos no fluxo que escorre da fonte. No coração dos tempo, o amor de um pelo outro. Brincámos juntos com milhões de amantes, partilhados na mesma cama, Tímida doçura do encontro, as mesmas lágrimas prementes de despedida - Amor antigo, em formas que se renovam e se renovam sempre. Hoje está amontoado a teus pés, em ti encontrou o seu fim, O amor de todos os dias do homem, no passado e sempre: Alegria universal, tristeza universal, vid...

O Pássaro Doméstico

O pássaro doméstico estava numa gaiola, o pássaro livre estava na floresta. Conheceram-se quando chegou a hora, era um decreto do destino. O pássaro livre grita, "Ó meu amor, vamos voar para a floresta". O pássaro da gaiola sussurra, "Vem para aqui, vamos viver na gaiola". Diz o pássaro livre, "Entre as grades, onde há espaço para abrir as asas?" "Ai", grita o pássaro enjaulado, "não saberia onde me sentar empoleirado no céu." O pássaro livre grita, "Minha querida, canta as canções das florestas." O pássaro da gaiola canta, "Senta-te ao meu lado, vou ensinar-te a linguagem dos cultos." O pássaro da floresta grita, "Não, ah não! as canções nunca podem ser ensinadas. O pássaro da gaiola diz, "Infelizmente para mim, desconheço as canções das florestas." Tão intenso é o amor como o desejo, mas nunca poderão voar  asa a asa. Olham através das grades da gaiola, e vão é o seu desejo de se conhecerem. Batem an...

O Astrónomo

Eu apenas disse, "Quando à noite a lua cheia fica enlaçada entre as praias daquela árvore Dadam, será que alguém podia apanhá-la?"        Mas o papá riu-se de mim e disse, "Bébé, tu és a criança mais idiota que já conheci. A lua está tão longe de nós, como poderia alguém apanhá-la?"        Eu disse, "Papá, como és tolo! Quando a mãe aparece à sua janela e brincando nos sorri, dirias que ela está assim tão longe?"        Mas o papá insistiu, "Tu é uma criança estúpida! Mas, bébé, onde poderias encontrar uma rede suficientemente grande para apanhar a lua?"        Eu disse, "Certamente podes apanhá-la com as mãos."        Mas o papá riu-se e disse, "Tu és a criança mais idiota que conheci. Se chegasses mais perto, verias o tamanho da lua."        Eu disse, "Papá, que disparates ensinam na tua escola! Quando a mãe...

Quem é Este

Saí sem companhia a caminho do meu encontro. Mas quem é este que me segue na silenciosa escuridão? Afasto-me para evitar a sua presença mas não lhe escapo. Levanta a poeira da terra com a sua jactância; adiciona a sua alta voz a cada palavra que digo. É o meu pequeno eu, o meu senhor, não conhece a vergonha; mas sinto vergonha de te visitar em sua companhia. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa      

Autoria

Dizes que o pai escreve muitos livros, mas não entendo o que   ele escreve.    Esteve a ler para ti ao longo da noite, mas compreendes realmente o quer dizer?      Que belas histórias, mãe, podes contar-nos! Porque é que o pai não pode escrever assim, pergunto?      Nunca terá ouvido da sua mãe histórias de gigantes e fadas e princesas?      Terá esquecido todas?      Muitas vezes, quando se atrasa para o banho, tens cem vezes de o chamar.      Esperas e conservas os seus pratos quentes, mas ele continua a escrever e a esquecer.     O pai brinca sempre a fazer livros. Se alguma vez vou brincar para o seu quarto, vens e chamas-me,      "Que criança atrevida!"      Se fizer o menor ruído, dizes: "Não vês que o pai está a trabalhar?"      Qual a graça de...

Quando o Dia acabar

Se o dia acabar, se os pássaros deixarem de cantar, se o vento murchar cansado, então desenha o véu da escuridão sobre mim, assim como envolveste a terra com o manto de sono e com ternura fechaste as pétalas do lótus caído ao anoitecer. Do viajante, cujo saco de provisões está vazio antes do final da viagem, cuja roupa está rasgada e repleta de poeira, cuja força está exausta, remove a vergonha e a pobreza, reaviva a sua vida como uma flor sob o céu da tua suave noite . Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa