Mensagens

A Palavra do Silêncio

Um silêncio  nu,  impessoal,  é agora a minha mente,       Um mundo de visão clara, inimitável, Um livro de silêncio assinado por uma Divindade ,       Elevação de puro pensamento , virgem de vontade. Antes, nas suas páginas, a Ignorância poderia escrever       Num esboço do intelecto o palpite cego do Tempo E lançar brilhantes mensagens de luz efémera ,      Alimento de almas a vaguear na orla da natureza. Mas agora eu escuto uma maior Palavra      Nascida de um omnisciente Raio, mudo, invisível: A voz que apenas o ouvido do Silêncio ouviu      Ergue-se missionária da eterna glória do Dia . E de ininterrupta paz infinita tudo se transforma Em alegre tumulto num mar de vasta libertação. Sonnets ,  1930-1950, Colected Poems , 1ª edition 1972 Complete Works of Sri Aurobindo, Volum...

O Único mais Íntimo

É ele o único mais íntimo, que desperta o meu ser com seus profundos toques ocultos. É ele quem lança o seu sortilégio sobre estes olhos e toca alegremente nos acordes do meu coração em cadência  variada  de prazer e dor. É ele quem tece a teia desta ilusão em tons evanescentes de ouro e prata, azul e verde, e se espreitar através das rugas do seu pé, mal lhe toco, do toque de mim mesmo me esqueço. Os dias chegam e as idades passam, é sempre ele quem muda o meu  coração em múltiplos nomes, sob múltiplos disfarces, em múltiplos êxtases de alegria e dor. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa     

Prisioneiro

"Prisioneiro, diz-me, quem te acorrentou?" "Foi o meu mestre," disse o prisioneiro. "Pensei que poderia superar todos no mundo em  riqueza e poder,   e acumulei na minha tesouraria o dinheiro devido ao meu rei. Quando o sono me veio, deitei-me na cama do meu senhor, e quando acordei, descobri-me preso na tesouraria." "Prisioneiro, diz-me, quem forjou esta corrente inquebrável?" "Fui eu," disse o prisioneiro, "quem forjou com zelo esta corrente. Pensei que o meu poder invencível manteria o mundo em cativeiro,   deixando-me numa  imperturbável  liberdade. Então noite e dia trabalhei na corrente  com golpes cruéis  e fogos imensos. Quando dei terminado o trabalho , e os elos eram completos e  inquebráveis, descobri que em o seu  ajuste me  prendiam ." Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa 

Sono

Em noite de fadiga deixa-me desistir de dormir sem luta, repousando a minha confiança em ti. Não permitas que o meu débil espírito descuide o exercício de te adorar. És tu quem desenha o véu da noite sobre os olhos cansados do dia ao renovar a sua visão numa alegria mais fresca ao despertar. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  © Luísa Vinuesa   

Da Natureza do Amor

A noite é negra e a floresta sem fim; um milhão de pessoas tecem-na de um milhão de formas. Temos encontros para manter na escuridão, mas onde ou com quem - isso desconhecemos. Mas temos essa fé - que a felicidade de uma vida aparecerá a qualquer minuto, com um sorriso nos lábios. Aromas, toques, sons, fragmentos de canções limpam-nos, tocam-nos, dão-nos choques deliciosos. Então, por ventura há um relâmpago: por quem vejo naquele instante apaixono-me. Chamo essa pessoa e brado: "Esta vida é abençoada! por tua causa, cruzei tantas milhas!" Todos aqueles que se aproximaram e se afastaram na escuridão - não sei se existem ou não. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa

Amor Eterno

Parece que te amei de inúmeras formas, inúmeras vezes... Em vida após vida, em era após era, sempre. O meu coração encantado fez e refez o colar de canções, Que levas como um presente, usas de variada forma ao pescoço, Em vida após vida, em era após era, sempre. Quando ouço velhas crónicas de amor, é uma dor milenar, É um fábula antiga de estar-se apartado ou junto. Enquanto olho fixo sem parar o passado, no fim tu emerges, Vestida à luz de uma estrela polar penetrando as trevas do tempo: Tornas-te uma imagem do que é lembrado sempre. Tu e eu aqui flutuámos no fluxo que escorre da fonte. No coração dos tempo, o amor de um pelo outro. Brincámos juntos com milhões de amantes, partilhados na mesma cama, Tímida doçura do encontro, as mesmas lágrimas prementes de despedida - Amor antigo, em formas que se renovam e se renovam sempre. Hoje está amontoado a teus pés, em ti encontrou o seu fim, O amor de todos os dias do homem, no passado e sempre: Alegria universal, tristeza universal, vid...

O Pássaro Doméstico

O pássaro doméstico estava numa gaiola, o pássaro livre estava na floresta. Conheceram-se quando chegou a hora, era um decreto do destino. O pássaro livre grita, "Ó meu amor, vamos voar para a floresta". O pássaro da gaiola sussurra, "Vem para aqui, vamos viver na gaiola". Diz o pássaro livre, "Entre as grades, onde há espaço para abrir as asas?" "Ai", grita o pássaro enjaulado, "não saberia onde me sentar empoleirado no céu." O pássaro livre grita, "Minha querida, canta as canções das florestas." O pássaro da gaiola canta, "Senta-te ao meu lado, vou ensinar-te a linguagem dos cultos." O pássaro da floresta grita, "Não, ah não! as canções nunca podem ser ensinadas. O pássaro da gaiola diz, "Infelizmente para mim, desconheço as canções das florestas." Tão intenso é o amor como o desejo, mas nunca poderão voar  asa a asa. Olham através das grades da gaiola, e vão é o seu desejo de se conhecerem. Batem an...

O Astrónomo

Eu apenas disse, "Quando à noite a lua cheia fica enlaçada entre as praias daquela árvore Dadam, será que alguém podia apanhá-la?"        Mas o papá riu-se de mim e disse, "Bébé, tu és a criança mais idiota que já conheci. A lua está tão longe de nós, como poderia alguém apanhá-la?"        Eu disse, "Papá, como és tolo! Quando a mãe aparece à sua janela e brincando nos sorri, dirias que ela está assim tão longe?"        Mas o papá insistiu, "Tu é uma criança estúpida! Mas, bébé, onde poderias encontrar uma rede suficientemente grande para apanhar a lua?"        Eu disse, "Certamente podes apanhá-la com as mãos."        Mas o papá riu-se e disse, "Tu és a criança mais idiota que conheci. Se chegasses mais perto, verias o tamanho da lua."        Eu disse, "Papá, que disparates ensinam na tua escola! Quando a mãe...

Quem é Este

Saí sem companhia a caminho do meu encontro. Mas quem é este que me segue na silenciosa escuridão? Afasto-me para evitar a sua presença mas não lhe escapo. Levanta a poeira da terra com a sua jactância; adiciona a sua alta voz a cada palavra que digo. É o meu pequeno eu, o meu senhor, não conhece a vergonha; mas sinto vergonha de te visitar em sua companhia. Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa      

Autoria

Dizes que o pai escreve muitos livros, mas não entendo o que   ele escreve.    Esteve a ler para ti ao longo da noite, mas compreendes realmente o quer dizer?      Que belas histórias, mãe, podes contar-nos! Porque é que o pai não pode escrever assim, pergunto?      Nunca terá ouvido da sua mãe histórias de gigantes e fadas e princesas?      Terá esquecido todas?      Muitas vezes, quando se atrasa para o banho, tens cem vezes de o chamar.      Esperas e conservas os seus pratos quentes, mas ele continua a escrever e a esquecer.     O pai brinca sempre a fazer livros. Se alguma vez vou brincar para o seu quarto, vens e chamas-me,      "Que criança atrevida!"      Se fizer o menor ruído, dizes: "Não vês que o pai está a trabalhar?"      Qual a graça de...

Quando o Dia acabar

Se o dia acabar, se os pássaros deixarem de cantar, se o vento murchar cansado, então desenha o véu da escuridão sobre mim, assim como envolveste a terra com o manto de sono e com ternura fechaste as pétalas do lótus caído ao anoitecer. Do viajante, cujo saco de provisões está vazio antes do final da viagem, cuja roupa está rasgada e repleta de poeira, cuja força está exausta, remove a vergonha e a pobreza, reaviva a sua vida como uma flor sob o céu da tua suave noite . Rabindranath Tagore - 215 poems Classic Poetry Series -  PoemHunter.Com  The World's Poetry Archive, 2012. Versão  Portuguesa  ©  Luísa Vinuesa